Um anúncio de revista de 1979, premiado no 4º Anuário do Clube de Criação de São Paulo, comunicava um empreendimento de reflorestamento com o título: “Quando o campo é pobre, a esperança vem morrer na cidade. Um dia o homem do campo se cansa da dureza da terra e da dureza da vida, junta as últimas esperanças e vem para a cidade.”

Naquela época, o Brasil presenciava uma iminente crise de insegurança alimentar. Éramos um dos maiores importadores de alimentos do mundo, sobretudo de grãos e de proteína animal. Mas, 45 anos se passaram e, o que antes era pobreza e fragilidade, se transformou em riqueza e força.

Nos últimos anos, o agro tem representado quase 25% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O crescimento robusto do setor impulsionou o PIB nacional, que registrou um aumento de 2,9% em 2023. No mesmo ano, o agronegócio proporcionou mais de 28 milhões de empregos, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

O Brasil ocupa o lugar de liderança mundial em diversos produtos, como a soja, o café, a cana-de-açúcar e o suco de laranja, além da carne bovina, aves e suínos.

É certo que toda esta mudança de cenário só aconteceu porque muitos acreditaram, trabalharam, investiram esforços e recursos, mas os profissionais do marketing e da comunicação também tiveram e têm grande participação em todas as transformações que o agro presenciou nas últimas décadas.

Nesse cenário, onde os ciclos de cultivo, colheita e manejo animal guiam todo o ritmo de trabalho, o papel do marketing se torna essencial não apenas para promover produtos e serviços, mas também para estabelecer uma relação de confiança entre as marcas e os produtores.

Embora ainda não haja aferição de pesquisas, sabe-se que os investimentos realizados em marketing, em comunicação e em eventos superam e muito outros mercados tidos como grandes anunciantes.

O agro é o único setor que mantém seis canais especializados de TV com programação ininterrupta tratando de agropecuária, oferece mais de 30 títulos de revistas e jornais, inúmeros programas de rádios e TV aberta por todo o país, incontáveis portais e sites e ainda comunicadores e influenciadores regionais.

Neste setor é preciso entender qual a cultura agrícola, o perfil do produtor e em qual região ele está para você determinar qual meio utilizar, antes de abolir qualquer opção. Um bom exemplo para falar de singularidade do campo são as revistas. Enquanto na cidade, fora da porteira, esse meio quase já não aparece nos planos de mídia, no agro é um pouco diferente.

A 8ª ‘Pesquisa ABMRA hábitos do produtor rural’ mostra que 71% dos produtores de batata do Paraná leem revista. Em São Paulo, esse índice cai para 36% quando o público são produtores de tomate. A pesquisa também indica que no Pará apenas 47% dos agricultores e pecuaristas têm acesso à internet.

Por outro lado, no outro extremo, essa taxa sobe para 92% no Rio Grande do Sul, considerando igualmente agricultores e pecuaristas, de todos os portes.

Por isso, em uma estratégia de comunicação, considerar que todos os produtores têm internet de forma linear é um equívoco e pode comprometer seriamente qualquer campanha.

A identificação entre as marcas e os produtores, que são os clientes principais das empresas, deve ser trabalhada a partir de uma conexão emocional, entendendo as necessidades e desafios específicos de cada perfil.

Ao final, concluo: seja aqui ou em qualquer parte do mundo, o marketing e a comunicação são fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento do agronegócio. E será com boas estratégias e com boa propaganda criada por agências e veiculadas em meios de mídia que poderemos ser vistos como o verdadeiro celeiro do mundo.

Ricardo Nicodemos é presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro (ABMRA)
ricardo.nicodemos@abmra.org.br