Não sei se devo usar o termo tsunami de uma forma positiva. Mas a imagem de uma onda poderosa, se formando pequena e ir crescendo, impactando a todos por onde passa, me veio à mente para definir o que está acontecendo com ESG.

Sabemos que os conceitos por trás da sigla ESG não são novos. Há muito se fala da importância do respeito ambiental, da responsabilidade social e de governança ética e sensível.

Mas, décadas atrás, era só uma marola, que atingia apenas aqueles mais conscientes. Mesmo a criação da sigla, por meio de um movimento da ONU, em 2004, o Who Cares Wins, não foi suficiente para fazer a onda aumentar.

A COP 21, de 2015, que marcou o Acordo de Paris e o Pacto Global, foi um momento importante, com centenas de países, inclusive o Brasil, se comprometendo com iniciativas que impeçam um aquecimento da Terra que supere 1,5°C, em relação ao início da revolução industrial.

Mas ainda não impactante o suficiente para provocar um engajamento do mundo empresarial e da sociedade, como um todo.

Somente por volta de 2017, quando o fundo Black Rock (o maior do mundo), por meio do seu CEO Larry Fink, passou a exigir das empresas do seu portfólio que passassem a prestar contas não somente do seu resultado financeiro, mas também das suas ações sociais e ambientais, além de uma governança que fosse coerente com o conceito triple bottom line, cunhado por John Elkington, que prega uma atenção ao lucro, mas também às pessoas e ao planeta.

A gente sabe que, quando se mexe no bolso, as pessoas (nesse caso, as jurídicas) se mexem. Aí sim, uma onda poderosa se formou.

De lá para cá, muita água passou debaixo da ponte, tendo até uma certa ponderação por parte do Black Rock, que já não tem sido tão incisivo na sua cobrança por uma atitude em compliance com as práticas socioambientais por parte das empresas.

Mas o fato é que a onda poderosa estava formada e, como sabemos, não se para uma onda dessas tão facilmente. O tema ESG entrou definitivamente na mídia, na pauta das reuniões de conselhos, no dia a dia das pessoas, enfim.

E por que trato esse tsunami como positivo? Porque não dá mais para esperar. Os efeitos das mudanças climáticas são tão impactantes que as empresas – e a sociedade em geral – não podem mais ignorá-los.

Escrevo este artigo em São Paulo, em meio a mais uma onda de calor, em pleno outono, que nos faz experimentar temperaturas superiores a 30°C. Enfim, não só
as mudanças climáticas, mas também a desigualdade social e a cobrança por atitudes mais éticas e conscientes, faz com que esse tsunami avance e comece a impactar a todos.

A grande empresa adota os princípios ESG e também pressiona toda sua cadeia de suprimentos e esse efeito dominó faz com que todos se mexam e busquem um engajamento, sob risco de levar uma “vaca” e não emergir mais num mercado cada vez mais competitivo e exigente.

Todos os setores da economia começam a se mobilizar pra valer, buscando um engajamento coerente com a demanda da sociedade.

Se você quer surfar nessa onda do bem, saiba que não é tão complicado como pode parecer. Não é necessário sair do zero ao 100 de uma vez. Basta começar analisando o impacto ambiental causado pela sua operação e ver formas de minimizá-lo significativamente.

A mesma coisa no campo social: praticar DE&I (Diversidade, Equidade e Inclusão), ter uma atitude sensível, tanto dentro de “casa” como nas relações as partes interessadas em torno da sua atuação.

E praticar isso tudo em consonância com uma governança ética e imbuída de um propósito genuíno de querer mudar para melhor. Sabemos que muitas empresas estão se mobilizando apenas por pressão do mercado.

Tudo bem! É assim que vamos criando uma nova cultura. O “nirvana” virá quando tivermos os princípios ESG naturalmente incluídos nas práticas de administração de empresas. E esse momento está chegando. A onda que se forma no horizonte pode assustar alguns. Mas outros simplesmente se prepararam para surfá-la com eficiência e satisfação.

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br